Uma corrida que começou no sábado! Na qualificação, Charles Leclerc buscava uma evolução de seu sétimo lugar provisório, e sua batida decretou o fim do Q3, dando apenas uma oportunidade de volta rápida ao top 10. Verstappen, por ter errado em sua primeira tentativa, largou de nono, e acredito que essa vai acabar sendo a principal memória que levaremos dessa corrida.
O GP de Miami trouxe consigo caractrísticas interessantes de um circuito de rua, misturado com um asfalto menos abrasivo e aderente aos pneus. Diante disso, 7 equipes optaram por largar com pneus médios com seus pilotos melhores colocados no grid e pneus duros para os segundos colocados de cada equipe. Apenas Williams e Ferrari largaram ambos seus carros com os pneus médios.
A ideia era de que os melhores colocados usassem dos pneus mais rápidos para conseguirem disputar suas posições na pista, trocar para os pneus duros e completar a corrida de maneira mais conservadora.
Já quem vinha mais de trás, a segunda ideia de estratégia era de manter uma consistência e um posicionamento competitivo, mesmo frente aos pilotos que estavam com pneus médios. Após as primeiras 20 voltas (momento em que os demais pilotos da estratégia reversa fossem parando para a sua troca de pneus), procurava-se poupar esses compostos para conseguir levá-los até em torno da volta 40. Em seguida, ao trocar para os pneus médios (mais adrentes e "mais rápidos"), aí era possível que os pilotos nessa segunda estratégia pudessem ser um pouco mais agressivos e recuperar um pouco mais de posições, já que quem vinha nessa segunda estratégia foram os que haviam largado mais de trás.
Destaco a importância dessas duas estratégias bem elaboradas e definidas no início da corrida, pois é um elemento que tem se perdido em algumas provas da Fórmula 1 mais recente (frente aos anos em que haviam múltiplas trocas previstas para todos os pilotos e até mesmo a época do reabastecimento no pit-stop). Essa dupla possibilidade de estratégia também começou no sábado, em que uma chuva "lavou" a pista de Miami, tornando o asfalto mais liso, menos abrasivo e desgastante para os pneus.
Essa queda de abrasividade do asfalto diminui o desgaste dos pneus pela simples rolagem sobre sua superfície. Porém, diante disso, a pilotagem, o controle de temperatura dos pneus e a adaptação de cada tipo de composto nessas condições variam também, e a nova forma de cada piloto guiar o carro nesse asfalto bastante imperdoável e mais escorregadio pode acarretar um maior desgaste de pneus.
Dessa forma, não ficou muito evidente para as equipes qual característica do asfalto em relação aos pneus iria se sobressair, e não ficou muito claro como seria o desgaste. Assim surgiram as duas estratégias: a primeira optava pelo stint de pneus duros (cerca de 40 voltas) a ser feita na parte final da corrida, com um carro mais leve e que exigisse menos dos pneus. A segunda, ao contrário, exigia bastante dos pneus no início, executando o mesmo stint quando o carro estava pesado e com tanque cheio. Logo, quem vinha mais de trás optou por ser um pouco mais agressivo e tentar descontar o terreno perdido na qualificação de sábado, optou pela segunda estratégia. Quem largou mais à frente, em geral foi mais conservador e largou de pneus médios.
Esse detalhamento das estratégias nos ajuda a entender o destaque positivo para a recuperação de Hamilton de 13º para sexto, e para a brilhante ascensão de Verstappen para a vitória, após uma escalada nas primeiras 20 voltas (mesmo com pneus duros no início) e posterior gerenciamento do desgaste para não permitir a aproximação de Pérez (que havia já trocado seus pneus - na chamada primeira estratégia) mesmo com pneus mais gastos. Assim, Verstappen fez seu pit-stop e voltou com pneus em condições muito mais favoráveis de ultrapassar o mexicano e em apenas duas voltas retomar a liderança.
Essa estratégia de Hamilton e Verstappen se sobressaiu na maioria dos casos (Tsunoda e Stroll também recuperaram posições mas ficaram ainda a poucas posições dos pontos, em 11º e 12º, respectivamente). Porém, Alonso, Russell e Sainz, na mesma estratégia de pneus que Pérez, foram consistente o suficiente para se manterem no pelotão da frente e protagonizaram a disputa pelo lugar final no pódio, e terminaram nessa ordem.
Gasly e Magnussen se aproveitaram do excelente posicionamento que tiveram na classificação no sábado, e também foram destaques na corrida. Os dois pilotos disputaram com Leclerc durante boa parte da corrida, e, assim como o monegasco, ambos na estratégia mais conservadora (quem estava na estratégia reversa foi Hamilton, e se aproveitou disso para passar os três na parte final da corrida). Chamou a atenção o ritmo próximo dos três carros, por isso o destaque positivo para ambos - e também negativo para Leclerc, que se viu disputando com a Alpine e com a Haas após seu erro na volta de classificação. Dessa forma, Leclerc ficou em 7º, não ameaçou Sainz e o espanhol foi confortavelmente o cavalino rampante mais bem colocado na corrida.
O destaque negativo ficou por conta da McLaren, que foi a única equipe a não colocar nenhum carro no Q2, e, por isso, tentaram uma estratégia diferente de todos, ao largar de pneus macios e fazer o pit-stop antes da volta 10, tentando aproveitar dos compostos mais aderentes para minimizar os efeitos do asfalto mais escorregadio e assim ganhar posições no início da corrida. Porém, a estratégia não funcionou muito bem, os carros laranjas não demonstraram bom ritmo ao longo de todo o final de semana e se mostra um protótipo que é adaptado apenas para alguns tipos de pista, porém, em outros, não tem sido muito difícil encontrar Norris e Piastri em 17º e 19º, respectivamente, tal qual na corrida de hoje.
Além disso, Sargeant, Hulkenberg, de Vries e Zhou foram pilotos que terminaram bem atrás de seus companheiros. Pela mesma justificativa, foram muito positivos os ritmos apresentados por Magnussen, Bottas, Tsunoda e Albon, que demonstraram levar seus carros bem ao limite. Stroll foi outro que terminou bem atrás de Alonso, mas nesse caso o principal fator não foi o ritmo de corrida, mas sim o de classificação. O canadense não passou para o Q2 no sábado, mas chegou perto dos pontos na corrida.
Finalmente, impressionaram também Alpine, Russell e Alonso. A Alpine se consolidou como a quinta força dessa corrida e ofereceu bastante resistência à Mercedes e Ferrari, o que garantiu pontos para ambos os carros com Gasly em 8º seguido pelo seu companheiro, Ocon, em 9º. Russell, por sua vez, se mantém numa temporada consistente em meio às incertezas de projetos do protótipo da Mercedes, e, enquanto o ritmo outrora vencedor ainda não é mais o mesmo, Russell fez uma corrida sólida e se manteve à frente da Ferrari de Sainz, mantendo a frente da Mercedes no campeonato de contrutores sobre a equipe italiana. E Alonso, em outra brilhante performance, conquista seu quarto pódio em cinco corrida e é indiscutivelmente o terceiro colocado no campeonato de pilotos hoje.
Já o líder mostrou hoje mais uma vez a razão de sê-lo, ao superar adversidades do sábado e seu companheiro no domingo, após brilhante estratégia e execução na pista, e garantindo a camisa comemorativa de número 1 do Miami Dolphins (time que se tornou parte do evento com as camisas de número 1, 2 e 3 para os três pilotos do pódio e transformou seu estádio no Paddock do GP), representativa de sua trigésima oitava vitória. Além, claro, de 14 pontos de liderança no campeonato. Resolveu a corrida no domingo.
Valeu Miami!
Guiherme Jamil
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